Minhas AMÍGDALAS vivem inflamadas! Retirar resolve?

Dr. Angelo Bannack

Atualizado há 3 meses

Algumas crianças (e às vezes adultos) têm várias infecções de garganta durante o ano. Diante disso, e para tentar se ver livre dessas infecções e do uso de antibióticos, muitos médicos indicam a cirurgia de remoção das amígdalas.

Mas será que resolve? Quando se deve retirar as amígdalas para acabar com as infecções de garganta? Existe alguma outra indicação para se submeter a esse procedimento cirúrgico? É o que você vai descobrir neste artigo.

O que são as amígdalas?

As amígdalas, amídalas, tonsilas palatinas ou simplesmente tonsilas são estruturas que ficam dentro da cavidade oral entre o final da boca e o início da garganta. Existem duas amigdalas, uma de cada lado da garganta. Elas ficam entre os pilares amigdalianos anterior e posterior.

Anatomia das amigdalas

Foto mostrando amígdala esquerda. Adaptada pelo autor.

O tamanho das amigdalas varia de pessoa para pessoa. Algumas têm tamanho bem reduzido, que quase não dá para ver, como na foto anterior. Outras são bem proeminentes, como na imagem abaixo.

Amígdalas grandes, com destaque em amarelo para a do lado direito. Klem, CC BY 3.0 , via Wikimedia Commons

E mais por curiosidade, se você preferir chamar as amígdalas apenas de tonsilas, é melhor usar o sobrenome palatinas (tonsilas palatinas), pois existem outras tonsilas na cavidade oral: faríngea, lingual e as palatinas.

Para que servem as amígdalas?

As amígdalas servem como area de combate para que nosso organismo consiga nos defender de vírus e bactérias que tentam causar gripes e resfriados. São elas que inflamam e às vezes liberam pús quando infeccionadas. E costumam doer muito nestes casos, dificultando até você de se alimentar.

Uma inflamação ou infecção nas amígdalas recebe o nome de amigdalite. Quando também há a inflamação na tonsila faríngea o médico pode acabar chamando sua infecção de faringoamigdalite. Se as amígdalas não estão inflamadas, mas você tem sintomas de dor de garganta e resfriado, o médico pode dar o nome para a infecção de faringite.

Quais as indicações para retirar as amígdalas?

A cirurgia para remoção das amígdalas recebe o nome de amigdalectomia. Ela pode ser realizada em adultos e crianças, e nestes casos normalmente somente após os 3 anos de idade, que é quando o sistema imunológico está mais bem estabelecido e as infecções de garganta começam a naturalmente diminuir.

Existem basicamente duas principais indicações para se submeter a essa cirurgia: infecções recorrentes e obstrução.

Infecções de garganta recorrentes (faringite estreptocócica)

Uma das principais indicações para a remoção das amígdalas são as infecções de garganta recorrentes. Aquela criança (ou adulto) que mal termina uma caixa de antibióticos e poucas semanas depois está com uma nova infecção de garganta.

As bactérias mais comuns de causar esse tipo de infecção são os estreptococos do grupo A.

Foram realizados diversos estudos para se definir parâmetros mais objetivos para a indicação da remoção das amígdalas devido a infeções bacterianas e também para saber se ela realmente é efetiva para evitar novas infecções.

O estudo mais conhecido e utilizado em nosso meio foi conduzido na década de 1980 pelo pediatra americano Jack Leon Paradise. A partir desse estudo foram definidos os critérios de Paradise que atualmente são estendidos e utilizados para indicar a remoção das amigdalas tanto em crianças quanto em adultos.

Os critérios para a remoção das amígdalas devido a infecções são:

  • Três episódios de infecção de garganta anualmente durante 3 ou mais anos ou;
  • Cinco episódios anualmente de faringite durante 2 anos ou;
  • Sete episódios em um único ano.

Além disso, cada episódio de faringite deve ser claramente documentado com uma ou mais das seguintes características clínicas:

  • Febre acima de 38,3°C;
  • Adenopatia cervical (presença de linfonodos aumentados na região do pescoço);
  • Exsudato tonsilar (presença de placas ou pús nas amígdalas);
  • Teste positivo para infecção por estreptococos do grupo A.

Os testes para investigação da bactéria causadora da faringite não são muito comuns no Brasil, sendo mais difundidos nos Estados Unidos. Ele é um teste simples, onde um grande cotonete (swab) é esfregado nas amigdalas e depois testado com um líquido reagente. É muito semelhante ao teste rápido utilizado na pandemia da Covid-19.

E outra questão importante é que mesmo que se tenham inúmeras infecções de garganta por ano, se isto não está atrapalhando a sua vida e você consegue conviver com a situação, não há motivos para correr para o cirurgião.

Suspeita de tumor

A simples suspeita de um tumor pode levar a indicação da remoção das amígdalas, que são então levadas ao microscópio para confirmar ou descartar o diagnóstico do tumor.

Os sintomas mais comuns que fazem o médico suspeitar de um tumor nas amígdalas são:

  • Assimetria das amígdalas (uma muito maior do que a outra);
  • Sangramentos ou feridas recorrentes;
  • Dor para engolir que não melhora;
  • Aumento progressivo no tamanho de uma ou ambas as amígdalas.

Apneia Obstrutiva do Sono

Amígdalas muito hipertrofiadas (aumentadas) podem causar ou contribuir para um distúrbio do sono chamado de Apneia Obstrutiva do Sono.

Nessa situação a pessoa para momentaneamente de respirar durante o sono.

O tratamento de primeira linha para a Apneia Obstrutiva do Sono é a perda de peso, a higiene do sono e o uso de um aparelho que faz uma pressão de ar positiva nas vias aéreas, conhecido por CPAP (Continuous Positive Airway Pressure).

Nos casos em que o CPAP não resolveu os episódios de apneia, e as amígdalas são hipertrofiadas, a cirurgia pode ser indicada.

Mal hálito (halitose)

A maioria dos casos de mal hálito são decorrentes de problemas dentários, má higiene bucal, ou ainda de refluxo gastroesofágico.

Existe uma outra condição conhecida por caseum. O caseum é a formação de bolinhas esbranquiçadas que se acumulam na região das amígdalas. Ele é formado por restos de alimentos. E o principal sintoma do caseum é o mal hálito.

O tratamento para o caseum costuma ser a melhora da higiene oral, com boa escovação, gargarejos com água e produtos enxaguatórios bucais. Eventualmente a remoção manual por um médico ou dentista pode contribuir para a melhora do mal hálito.

Em casos recorrentes, a amigdalectomia pode ser a solução definitiva.

Como é a recuperação da cirurgia?

A cirurgia de remoção das amígdalas não é simples e nem isenta de riscos. A garganta é uma área nobre de nosso corpo e é preciso confiar seu corpo para um otorrinolaringologista experiente.

De qualquer forma, normalmente a pessoa operada vai para casa poucas horas depois do procedimento, sem necessidade de ficar internada.

Os principais incômodos depois da cirurgia são o sangramento e a dor no local da operação.

A dor pode persistir por uma ou duas semanas e é normalmente tratada com analgésicos simples ou anti-inflamatórios.

O sangramento costuma durar 1 ou dois dias, podendo se extender até uma semana e cessa sem necessidade de nenhum tratamento específico.

A recomendação é ingerir líquidos conforme a tolerância e voltar a se alimentar gradualmente com alimentos sólidos.

E apesar de menos comum, dificuldade para respirar pode aparecer em alguns casos. É algo passageiro e devido ao inchaço no local da operação. Porém, na presença de qualquer sintoma ou desconforto, consulte seu médico o quanto antes.

Não é recomendado o uso de antibióticos após a cirurgia.

Nunca mais terei infecção de garganta?

Sem as amígdalas, você não terá mais amigdalites. Porém, a garganta é composta por várias regiões e outras tonsilas, incluindo a faríngea. Então você ainda pode ter faringite, que é a inflamação ou infecção das tonsilas faríngeas, ou ainda inflamação de outras estruturas que podem causar dor.

De qualquer forma os estudos mostram que a ocorrência de infecções de garganta reduz muito em quem não tem as amígdalas.

Vou ficar com a imunidade baixa por não ter as amígdalas?

Apesar de as amígdalas serem um dos campos de batalha para o sistema imunológico combater vírus e bactérias que estão tentando adentrar em nosso corpo, não há indícios de piora na imunidade de quem não tem as amígdalas.

Os estudos que temos não demonstraram alterações na imunidade após a cirurgia. Nosso sistema imunológico é extremamente complexo e as amígdalas são apenas uma das inúmeras estratégias de defesa de nosso corpo.

Conclusão

As amígdalas são estruturas que ficam no início da garganta e que serem para nos defender de vírus e bactérias. Quando elas infecionam várias vezes por ano, uma opção de tratamento definitivo é sua retirada cirúrgica. Quem tem apneia obstrutiva do sono, suspeita de tumor nas amígdalas ou mal hálito também pode eventualmente se beneficiar da amigdalectomia. Porém a cirurgia precisa ser bem indicada e realizada por um cirurgião experiente. Ela costuma ser bem tolerada, ter poucas sequelas e trazer uma melhora na qualidade de vida do operado.

Espero que tenha gostado do artigo. Se ficou com dúvidas comente aqui ou nas redes sociais.

Dr. Angelo Bannack - Médico de Família

Dr. Angelo Bannack

Sou um médico que gosta de escrever, curte tecnologia e que valoriza a ciência como o caminho para a nossa evolução. Como médico de família, atendo em meu consultório particular em Curitiba e em consultas domiciliares, ajudando as pessoas a manterem-se saudáveis, com check-ups regulares, orientações e contribuindo no processo de diagnóstico e tratamento da grande maioria dos problemas de saúde.

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