Medicina
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Por Bernardo Yoneshigue

No último dia 5 de agosto, chegou ao catálogo da Netflix a série ‘Sandman’, desenvolvida pelo streaming e baseada no livro homônimo de Neil Gaiman, que logo se tornou uma das mais assistidas no Brasil. A história tem início a partir do aprisionamento da figura mística de Morfeu, o senhor dos Sonhos, evento que provoca a onda de uma doença misteriosa que impede as pessoas de dormirem ou acordarem, apelidada na série de doença do sono. No decorrer dos anos, o diagnóstico é oficialmente batizado de encefalite letárgica, um quadro que, no entanto, não se restringe ao mundo da ficção.

A criação de Gaiman é baseada diretamente na real epidemia da doença, que aconteceu no final da década de 1910 e até hoje não tem as causas bem desvendadas. Estimativas apontam que a encefalite letárgica – que de fato carregava esse nome e também era referida como doença do sono – afetou cerca de um milhão de pessoas pelo mundo, deixando aproximadamente 500 mil mortos. Porém, outras análises apontam ainda que o número pode chegar a 4 milhões de casos e um milhão de óbitos.

Os primeiros relatos foram escritos em 1916 e 1917, pelos físicos Jean-René Cruchet, na França, e Baron Constantin Von Economo, na Áustria. Ainda não se sabe o motivo exato por trás do quadro, mas o diagnóstico acabou desaparecendo aos poucos com a emergência da gripe espanhola.

“A encefalite letárgica aguda geralmente se apresentava como um início gradual de sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo mal-estar, febre baixa, faringite, calafrios, dor de cabeça, vertigem e vômito. Os sintomas neurológicos se seguiam e podiam se apresentar muito rapidamente, como no caso de uma garota que experimentou uma hemiplegia (paralisia) repentina enquanto caminhava para casa depois de um concerto. Dentro de meia hora ela estava dormindo e morreu 12 dias depois”, escreveram os pesquisadores Leslie A Hoffman e Joel A Vilensky, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, no artigo “Encefalite letárgica: 100 anos após a epidemia”, publicado na revista científica Brain.

Além da fase aguda, o quadro podia durar por meses ou anos após o início dos sintomas. Uma das características é justamente a sonolência contínua apresentada na série da Netflix. No entanto, grande parte dos casos de Parkinson relatados durante o último século foram associados a diagnósticos de encefalite letárgica.

“A fase crônica foi caracterizada por parkinsonismo, mas distúrbios do sono, anormalidades oculomotoras, movimentos involuntários, anormalidades da fala e respiratórias e distúrbios psiquiátricos também foram características comuns. Nas décadas que se seguiram à epidemia, estimou-se que até 50% dos casos de parkinsonismo eram pós-encefalíticos”, escreveram os pesquisadores.

Um dos nomes que se tornaram referência em relatos sobre a doença foi o neurologista Oliver Sacks, que tratou um grupo de sobreviventes que enfrentavam quadros crônicos da encefalite no Hospital Beth Abraham, em Nova York, durante a década de 1960.

"Eles estariam conscientes e atentos – mas não totalmente acordados; eles ficariam sentados sem movimento e sem fala o dia todo em suas cadeiras, totalmente sem energia, ímpeto, iniciativa, motivo, apetite, afeto ou desejo; eles registrariam o que acontecia com eles sem atividade ativa, atenção e com profunda indiferença (...) Não transmitiam nem sentiam o sentimento da vida; eram tão insubstanciais como fantasmas e tão passivos quanto zumbis”, escreveu o médico em seu livro “Tempo de despertar”, que mais tarde deu origem ao filme homônimo estrelado por Robert De Niro e Robin Williams.

Na obra, o neurologista relata o uso de um medicamento chamado levodopa, na época em testes para tratamento do Parkinson, que chegou a ter resultados positivos para os pacientes com pós-encefalite. Porém, com o tempo, a terapia deixou de fazer efeito.

Até hoje, não se sabe ainda qual foi a causa exata do desenvolvimento da doença. Há especulações sobre uma possível ligação com infecções virais, até mesmo com o patógeno responsável pela pandemia da gripe espanhola, mas os cientistas ainda não conseguiram definir o motivo exato para os impactos no cérebro.

“Após 100 anos de pesquisa, a etiologia (causa) da encefalite letárgica ainda é desconhecida. Embora várias teorias tenham sido propostas, existem duas categorias principais de etiologias plausíveis: ambientais (toxicológicas) e infecciosas (virais, bacterianas, etc.). Mais recentemente, no entanto, há evidências para apoiar uma terceira teoria: auto-imunidade. Também é possível que a encefalite letárgica tenha múltiplas causas, o que poderia explicar a ampla gama de hipóteses etiológicas que foram avançadas ao longo dos anos”, escreveram os pesquisadores no artigo da Brain.

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