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Você sabe diferenciar o edema pulmonar cardiogênico do não cardiogênico?

EDEMA PULMONAR

Índice

Existem dois tipos diferentes de edema pulmonar: o edema pulmonar cardiogênico e o edema pulmonar não cardiogênico.

Embora tenham causas distintas, o edema pulmonar cardiogênico e não cardiogênico podem ser de difícil distinção por conta de suas manifestações clínicas semelhantes.

Fisiopatologia do edema agudo de pulmão

O edema agudo de pulmão (EAP) é uma síndrome clínica caracterizada pela transudação de líquido para o espaço alveolar, sendo o resultado de um desequilíbrio entre os fatores reguladores do transporte de líquido da microcirculação pulmonar para o espaço intersticial pulmonar, ou seja, desequilíbrio entre as pressões hidrostática e oncótica.

Um rápido aumento da pressão hidrostática nos capilares pulmonares, levando ao aumento das vias de filtragem de fluidos é característico do edema cardiogênico ou de sobrecarga de volume.

A pressão hidrostática aumentada nos capilares pulmonares geralmente se deve a elevação da pressão venosa pulmonar decorrente do aumento da pressão diastólica final do ventrículo direito e o aumento na pressão atrial esquerda. Pequenas elevações da pressão atrial esquerda podem causar edema. Com isso, ocorre rompimento do epitélio pulmonar, inundando o alvéolos com líquido pobre em proteínas.

Por outro lado, o edema pulmonar não cardiogênico é causado por um aumento na permeabilidade vascular do pulmão, resultando em um aumento do fluxo de líquido e proteína no interstício pulmonar e espaços aéreos. No EAP não cardiogênico o edema possui um alto teor de proteínas, porque o sistema vascular da membrana é mais permeável ao exterior e ao movimento de proteínas plasmáticas.

Diferença entre o mecanismo fisiopatológico do edema pulmonar cardiogênio e não cardiogênico. Fonte: Ware et. Al. Acute Pulmonary Edema. 2005.

Causas do edema agudo pulmonar

Cardiogênico

  • Isquemia cardíaca
  • Descompensação da insuficiência cardíaca
  • Disfunção da valva aórtica ou mitral
  • Sobrecarga de volume

Não cardiogênico

  • SDRA ou SARA
  • Pneumonia
  • Sepse
  • Aspiração de conteúdo gástrico
  • Grandes traumas com necessidade de múltiplas transfusões sanguíneas
  • Intoxicação opióides e salicilatos

Sinais e sintomas do edema agudo pulmonar

O quadro clínico do EAP cardiogênio e não cardiogênico é semelhante. O edema intersticial leva a dispneia, o preenchimento alveolar por líquido causa hipoxemia, podendo estar associado à tosse e à expectoração de líquido espumoso.

A história deve levar em conta a determinação do distúrbio clínico subjacente que levou ao edema pulmonar.

Sinais e sintomas que sugerem edema agudo cardiogênico

  • Dispneia paroxística noturna
  • Ortopneia
  • Presença de B3 em galope
  • Turgência de jugular

Sinais e sintomas que sugerem edema agudo não cardiogênico

  • Sinais e sintomas de infecção
  • Rebaixamento do nível de consciência e vômitos

Exames complementares

BNP

Um nível de BNP abaixo 100 pg/mL indica que a insuficiência cardíaca é improvável (valor preditivo negativo > 90%). Um nível de BNP superior a 500 pg/mL indica que é provável a insuficiência cardíaca. Os níveis de BNP entre 100 e 500 pg/mL não fornecem discriminação diagnóstica adequada.

Radiografia de tórax

Os mecanismos cardiogênicos e não cardiogênicos de edema pulmonar resultam em algumas características distintas na radiografia de tórax. Essas características podem ser observadas na tabela abaixo.

Achados radiográficos que podem auxiliar na diferenciação do EAP cardiogênico e não cardiogênico. Fonte: Adaptado de Ware et. Al. Acute Pulmonary Edema. NEJM. 2005.
Radiografia de paciente com EAP cardiogênico. A figura mostra uma radiografia anteroposterior de um paciente de 51 anos com infarto agudo do miocárdio. Note o alargamento do espaço peribrônquico (cabeças de seta) e a proeminência das linhas septais (setas). Fonte: Ware et. Al. Acute Pulmonary Edema. NEJM. 2005.
Radiografia de paciente com EAP não cardiogênico. A figura mostra uma radiografia de um paciente de 22 anos cuja hemocultura era positiva para Streptococcus pneumoniae, causando pneumonia complicada por choque séptico e síndrome do desconforto respiratório agudo. Nota-se a presença de um infiltrado alveolar heterogêneo e presença de broncograma aéreo bilateral (setas), achados característicos, porém não específicos, de EAP não cardiogênico. Fonte: Ware et. Al. Acute Pulmonary Edema. NEJM. 2005.

Ecocardiograma

O ecocardiograma também é útil na investigação do mecanismo/etiologia do EAP, tais como alterações valvulares, avaliação da função ventricular, hipertrofia, dimensões das câmaras cardíacas etc.

Algoritmo para a diferenciação clinica entre edema pulmonar cardiogênico e não cardiogênico. Fonte: Ware et. Al. Acute Pulmonary Edema. NEJM. 2005.

Tratamento do edema agudo de pulmão

O tratamento do EAP é dividido em:

  1. Vasodilatadores e diurético
  2. Suporte ventilatório

O paciente deve ficar sentado, de preferência com as pernas para fora do leito, reduzindo assim a pré-carga.

Vasodilatadores

Nitratos

Dinitrato de isossorbida

Administrar 5mg de dinitrato de isossorbida SL, repetindo a cada 5 minutos até a dose de 15mg

Nitroglicerina EV

Apresenta discreta potência de vasodilatação arterial. Contudo, seu grande
benefício está na capacidade venodilatadora e coronário-dilatadora.

Uma de suas limitações é o desenvolvimento de taquifilaxia (doses maiores são necessárias para se obter o mesmo efeito) e cefaleia em um quinto dos pacientes.

Posologia: Nitroglicerina 50 mg diluída em 500 mL de SF0,9% ou SG5%) na dose inicial de 5mcg/min.

Geralmente 3ml/h em BIC, aumentando 3 a 5 ml a cada 5 minutos até haver melhora clínica ou queda da pressão sistólica até 90 a 100mmHg.

Morfina

Não está indicado o uso de rotina devido ausência de benefícios comprovados e aos potenciais riscos.

Se feita de maneira rápida e, sobretudo, em doses altas, poderá levar à depressão respiratória, bradicardia e hipotensão.

A dose recomendada é de 2 a 5 mg, EV, a cada 5 ou 10 minutos.

Diuréticos

A classe indicada é dos diuréticos de alça (furosemida), em especial por via endovenosa, podendo ou não serem associados à tiazídicos e à espironolactona em caso de resistência glomerular.

A dose indicada varia de 20 a 40 mg, endovenoso, em casos leves e moderados de retenção hídrica. Já para retenção grave de fluidos, sugere-se o uso de 5 a 40 mg/h, em bomba de infusão contínua (BIC).

Repete-se a dose em até 10 minutos, caso não haja resposta terapêutica.

A furosemida tem efeito benéfico imediato de venodilatação e de estímulo a diurese.

Suporte ventilatório não invasivo

Diversos estudos mostram benefício da ventilação não invasiva com pressão positiva (VNI/BiPAP/CPAP). A pressão positiva nas vias aéreas reduz o retorno venoso (pré-carga) e melhora a congestão pulmonar.

Fonte: Manual de Clínica Médica, Sanar
Fonte: Manual de Clínica Médica, Sanar

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Perguntas Frequentes:

1 – Quais são os sinais e sintomas que indicam um edema pulmonar cardiogênico?

  • Dispneia paroxística noturna
  • Ortopneia
  • Presença de B3 em galope
  • Turgência de jugular

2 – Quais são os sinais e sintomas que indicam um edema pulmonar não cardiogênico?

  • Sinais e sintomas de infecção
  • Rebaixamento do nível de consciência e vômitos

3 – Quais exames complementares pedir na investigação do edema pulmonar?

BNP, radiografia de tórax e ecocardiograma.

Referências

  1. ARAUJO, Juliano Silveira de. Manual Prático para Urgências e Emergências Clínicas. Salvador: Sanar, 2016.
  2. FIGUEIREDO, Estevão Tavares de. Manual de Clínica Médica. Salvador: Sanar, 2019.
  3. MARTINS, Herlon Saraiva; BRANDÃO NETO, Rodrigo Antonio; VELASCO, Irineu Tadeu. Medicina de emergência: abordagem prática. 2019.
  4. Lorraine B. Ware and Michael A. Matthay, Acute Pulmonary Edema – N Engl J Med 2005;353:2788-96.

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